O legado da “ferrovia do diabo” que marcou a história da Amazônia
A Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, um dos mais emblemáticos projetos de infraestrutura da região amazônica, permanece como símbolo de resistência, tragédia e desenvolvimento. Construída entre 1907 e 1912 no atual estado de Rondônia, a ferrovia foi projetada para contornar as perigosas cachoeiras do Rio Madeira e garantir o escoamento da produção boliviana durante o ciclo da borracha.
Solução estratégica para um desafio internacional
No início do século XX, a Bolívia enfrentava severos obstáculos logísticos para transportar seus produtos pela bacia amazônica, já que o trecho encachoeirado do Rio Madeira impedia a navegação. Como parte das negociações do Tratado de Petrópolis — que garantiu o Acre ao Brasil — o governo brasileiro se comprometeu a construir uma solução para o país vizinho.
Assim nasceu o projeto da Madeira-Mamoré, uma ferrovia de 366 km entre Porto Velho e Guajará-Mirim, encarada na época como um feito de engenharia ousado.
A obra, conduzida por empresas estrangeiras, reuniu milhares de trabalhadores de dezenas de nacionalidades em meio à selva amazônica. A inauguração oficial ocorreu em 1º de agosto de 1912.
A “ferrovia do diabo”: tragédias em meio ao progresso
A construção da Madeira-Mamoré ficou marcada pelo alto custo humano. A região era assolada por doenças tropicais, como malária e febre amarela, além de condições de trabalho extremamente precárias. Estima-se que milhares de operários tenham morrido durante a execução da obra, o que levou ao apelido que ecoa até hoje: “a ferrovia do diabo”.
Mesmo diante das adversidades, a ferrovia deixou um impacto duradouro: sua implantação impulsionou o desenvolvimento urbano da região e contribuiu diretamente para a formação de cidades como Porto Velho.
Declínio econômico e desativação
Com o fim do ciclo da borracha e a crescente concorrência da produção asiática, a ferrovia perdeu sua razão de ser. Operou por décadas com prejuízos e, já sem demanda suficiente, acabou desativada em 1972. O trecho original deixou de funcionar, mas a memória da obra continuou viva na cultura e na história amazônica.
Patrimônio histórico e atração turística
Hoje, a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré é reconhecida como um importante patrimônio histórico e cultural do país. Em Porto Velho, parte do antigo complexo ferroviário foi restaurado e está aberto à visitação. O local preserva locomotivas, estruturas originais e um pequeno trecho turístico dos trilhos, permitindo que moradores e visitantes conheçam de perto um capítulo marcante da história brasileira.
Mais de um século depois, a ferrovia segue despertando interesse e emoção — seja pela sua ousadia, pela tragédia que a cercou ou pelo legado deixado na Amazônia.













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